No meio da empolgação, da gritaria e da loucura dos minutos que antecediam a partida, por algum motivo, eu direcionei o olhar à torcida adversária. Das suas bocas e gritos opacos, escorria a baba de uma empáfia monumental. Num delírio de soberba, num acesso de presunção desmedida, ousavam ironizar Fernandão. Em verde e branco, salpicados de preto e azul, eles proferiam o nome do capitão num tom de chacota, guinchando um riso de hiena que tantas vezes eu havia visto. Lastimei. Não pelo camisa 9, maior que todos. Menos ainda por eles, o nada em esmeralda. Me consternei mesmo pela arquibancada, por aquela velha nesga do Gigante que cumpre sua sina infinda de abrigar os que vêm de fora. Por segundos, me detive naquele cimento frio e úmido, tristonho e gris como outono. Duro, carrancudo, inóspito, invernal. Notei ali um solo quase pagão, condenado à pena irrevogável de ser um estranho em si mesmo. Pobre concreto, lamentei. Nossa gente te renega, te deixa empoeirar. Veneramos o teu oposto! É sempre do outro lado que tudo acontece. É lá que a magia surgiu e se renova, a cada quarta ou domingo, para jamais morrer. Lá que ela acorda ao som dos bumbos, se alvoroça no tremular das bandeiras, flutua e ganha o mundo nos cantos que não se calam. É tão mágico o teu espelho, é tão bendito aquele costado, que o sol o escolheu para cama. E tu, solo enjeitado? Enquanto o ginásio espiava sobre o teu ombro, tu viveste tudo, foste partícipe de epopéias, glórias incontáveis. Das tardes do Tri às noites da América. Tudo. Mas quem em ti viveu? Quem em ti foi Inter? Parece que a vida corre no teu arrabalde, à tua margem. Nunca contigo. A verdade, meu chão, é que quem te pisa não te merece. Quem te ocupa não te respeita e de ti não é digno. Mas tu, solo guerreiro, cumpres o trabalho sujo de sustentar o que não convém ao Gigante, o que a ele será sempre estranho e menor, o que já vem com o destino traçado. Tua fatia diminuta e esquecida é uma espécie de cadafalso, é a beira do abismo materializada em ferro e areia. Tu és a boca do Gigante, a quem tudo e todos engole. Quem por ti adentra, acaba deglutido em 40 mil vozes, amassado por 22 pernas. Vendo de longe, teus degraus são uma espiral. Por eles, tal qual uvas, escorrem os restos, os bagaços mortos em direção ao portão. Às 17h30min de domingo já não havia alma alguma no lado oposto da Popular. Não se via copo nem bandeira, não se ouvia grito, nem eco, nem fantasma. O setor dos visitantes, onde vários já tombaram, onde tantos sucumbiram, onde todos se curvaram, estava nu. E aquela bocado da Inferior, tão Beira-Rio quanto todo o resto, tão Inter como todos nós, parecia fitar o céu. Sobrepostas, suas escadas de cimento lembravam dentes cerrados. Não ria nem chorava. Mas tinha o semblante sarcástico, tal qual a fera que engole a presa fácil e palita o dente com os ossos.Como por encanto, as 700, 800 pessoas que ali bradavam contra o capitão não mais existiam. Envergonhado da sua origem, o som dos lábios que tentavam menosprezar o maior jogador gaúcho dos últimos 30 anos bailou no ar e juntou-se ao berro apaixonado da massa. Agora ele também era todo louvor ao homem que nasceu com a missão de reerguer aquilo que jamais caiu, de engrandecer o que nunca foi menor, de fazer do Sport Club Internacional, enfim, o que todos sabiam que ele era, o maior do mundo. Fernandão já deixou de ser apenas um bom jogador de futebol há muito tempo. O capitão é muito mais que isso. Fernandão, hoje, é um duplo. E nessa dualidade se encerra quase toda a polêmica que possa haver em torno de seu nome.Amigos, atentem para quando Fernandão correr. Olhem o corpo esguio, a passada elegante, briosa do capitão, a melena febril saltando-lhe na nuca, os braços vivos dando a diretriz, indicando a jogada, postados tal qual um relógio em dez para as duas. Notem que ao lado do Fernandão atacante, de meias e caneleiras, corre um espectro. Sua silhueta é idêntica à do camisa 9, porém diáfana, transparente, cintilante, perispíritica, coberta de faixas, medalhas, alçando taças de tamanhos e tonalidades diversas. Este é o Fernandão histórico. Por Centenários ou Jaconis, Morumbis ou Maracanãs, Fernandão carrega consigo o seu duplo, forjado em seu próprio talento, montado na matéria-prima de seu mérito e qualidade, costurado em cabeçadas, pênaltis e assistências, em choros e gritos, Yokohamas e Quitos. Fernandão é um centauro, meio boleiro, meio mito. E aqui dissolve-se todo o mistério que envolve o centroavante. Hoje, é impossível dissociar o Fernandão humano, falível, do Fernandão eterno e mágico. Por isso, sempre que se criticar o Fernandão terreno se atingirá o Fernandão do Olimpo. Sempre que se santificar o Fernandão imortal se estará canonizando o de carne e osso. Um é escudo do outro, um é ferida do outro. Ao mesmo tempo, vivem numa briga voraz – mas de resultado óbvio – para manterem-se em simbiose.Em jogos como o de hoje, em massacres, em chacotas, em expurgos, em humilhações como a de hoje, o Fernandão homem enfraquece, morre mais um pouco. O Fernandão insosso, de correr arrastado e improdutivo, o Fernandão ‘que já deu o que tinha que dar’ tonteia e quase desfalece. Já o Fernandão histórico, armário vivo de glórias, cume do panteão colorado, se fortifica e ganha ainda mais vida, acelera o processo irreversível que o tornará único. Alimentado pelo Fernandão humano, o mítico e eterno capitão colorado se faz soberano a cada taça que levanta, em cada batalha épica vencida, no gramado santo do Gigante, embaixo das nossas mãos estiradas, de nossos punhos fechados, de nossa visão embaçada. Chegará o dia em que, na sombra de uma nova conquista, o capitão erguerá seus braços às nuvens novamente e não mais voltará, sorvido pela sua predestinação. by sapulha!!
o texto eh de quando ele fez tres gols na final do gauchao, depois de ser massacrado por ter entregue o jogo uma semana antes do massacre colorado... duvido os gremistas terem um lider cm ele... eu sei que o INTER tem outros jogadores mas eh como se td ele fosse soh um... ele eh FERNANDO LUCIO DA COSTA!!
qurem ver o real motivo disso td?? e ainda escolheram a musik perfeita!!
http://br.youtube.com/watch?v=fbv-YsK8YR8
Tchê, o Colorado é tão grande que já nasceu Internacional!!!
Meu pai inventou essa frase para um concurso q teve no ano retrasado...
E ele tem razão! E um time legitimamente internacional, só poderia ter à sua frente um homem com H maiúsculo, do brio, da inteligência, da simplicidade e retidão, e por que não dizer da beleza, de Fernando Lúcio da Costa!
O Internacional, além de todos os seus avantes e indeléveis guerreiros, divide-se em "antes" e "pós" Fernandão! Não há como negar!
E como nos enche de orgulho ver que um goiano abraçou este Rio Grande como sua pátria e fez dele seu palco para brindar a todos nós, reles mortais, com sua imensa grandeza!
Fernandão, dentre todos os mortais, tu és o verdadeiro imortal!!! Quem te tem por capitão segue firme e confiante guiado pela tua infinita luz,luz q carregas desde o berço, em tua própria identidade, Lúcio!
Peleia capitão! Que teu povo te aclama, faças gols ou não!